domingo, 1 de julho de 2012

Trocando em Miúdos

Sem Definição

Chegou em casa em silêncio. Tirou e guardou, cuidadosamente, cada pulseira e seu único brinco, um coração gigante. Despir a roupa, apenas completou aquela sensação de nudez que a acompanhou desde aquela grade. Sensação vergonhosa e palpitante, que atravessou bairros com ela, a seguiu durante a curta caminhada pelo meio da rua e subiu com ela o elevador.
No banheiro, tirou o batom vermelho com força. Encarou o espelho no olho, tentando entender o que se passava lá dentro. Lavou o rosto. Escovou os dentes. Fez xixi.
Isso tudo é bem íntimo.
E há que se ter cuidado com essa intimidade toda...
Voltou para o quarto totalmente nua, totalmente muda.
Mandou uma mensagem às amigas e voltou ao seu silêncio.
Defina silêncio.
Aos poucos ela foi entendendo que aquela grade deveria ser um muro sem frestas. Bem como seu coração.
Que aquele que estava ali, poderia ser qualquer outro. Que roupa não protege. Que não há escudo contra o que vem de dentro.
De repente, tudo virou imperfeito do indicativo
Ela esfacelava cada pedaço de razão, que feito uma comorbidade, cobria seus sentimentos.
Ele não imaginava da missa o terço.
Ela fazia movimentos inversos aos sentimentos, sem nem sentir. Até que foi auto-desmascarada por entre frestas.
Ele de um lado do mundo
Ela de outro.
Entre eles havia um 


A
B
I
S
M
O


E só.
Nada mais.
Mais nada.





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