sábado, 18 de fevereiro de 2012

Olê, olá

Nem Tão Popular Assim


Havia uma multidão, muitos carros, alvoroço. As crianças vibravam e seus pais abanavam loucamente. O som da banda escapava por entre as frestas da minha janela. Todos pareciam felizes e eu só queria silêncio. Sim, silêncio. Porque aquilo não me pertencia, minha alma estava em outro momento. Na verdade, eu nem sabia o motivo daquela festa. Era uma grande festa. Estavam lá todos os meus vizinhos, conhecidos e desconhecidos de toda parte. Até o prefeito. O que eles comemoravam? Eu não sabia nem em que cidade estava...
Entorpecida. Nem curiosidade de avistar tamanha felicidade eu tinha. Mesmo que da janela.
O mundo parecia estar feliz, festejando, ornando fantasias e eu ali, nua. Não havia roupa que cobrisse aquela incerteza, aquela dúvida que partia da minha simples existência. Ainda não foi inventada uma maquiagem que disfarçasse um olhar opaco. Um remédio que curasse a dor da dúvida, o medo do novo.
A massa alucinada, bem ali, há alguns passos de mim e, mesmo assim, eu me sentia só. Solidão em estado puro. Despejada do meu próprio mundo, em busca de uma terra mais fértil.
Mas a festa parecia linda. Eu via da minha cama, o cume amarelado das árvores acariciadas por uma brisa, que me parecia tão gentil... O sol ouvira os gritos de clemência do povo e convidara algumas pequenas nuvens para dançar. A música era bonitinha. Mas não era pra mim. Ainda não.
Eu não queria ver nada, preferia imaginar. O homem com a filha nos ombros, a mãe enlouquecida, e ainda assim eufórica, com a bolsa, o carrinho, os brinquedos e a mamadeira do bebê. Pais e seus filhos prediletos. Não prediletos simulando uma alegria contagiante e aproveitado o calor uterino que a multidão proporciona. As crianças pulando, correndo, dançando, lambendo picolés. Irmãos, nem tão irmão assim. Os casais e seus lindos cachorrinhos, os casais de velhinhos...
Projeção.
Também imaginava como tocava a banda, pelo som, tentava desvendar quais instrumentos estavam presentes. Nisso eu sou boa! Será?
Às vezes, parece que fui engolida por um hiato. Parece que o limbo está aqui, bem dentro de mim. Esses momentos são necessários. Não participar da festa é necessário. Só por hoje.
Tem fases em que é difícil levantar da cama, mesmo que para ver a banda passar. Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu. Tem dias. Tem fases.
Chico sabe, Chico sabe...


Um grande beijo!

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